A cidade da poesia, da arte e do pensamento não tem apenas avenidas, praças e alamedas. A sua planta compõe-se também de pracetas, ruas de ligação (por vezes longas e larguíssimas), travessas, pátios - e até impasses ou becos, nem sempre mal frequentados. Possui ainda uma planta secreta, feita de subterrâneos, túneis e passagens, onde a escuridão ou a penumbra tornam invisíveis, mas não inexistentes, aqueles que por lá circulam.
O estatuto das vias e daqueles que por elas se movimentam é secundário perante a evidência da qualidade da obra de arte, seja qual for a sua proveniência. Há artistas, poetas e pensadores bem instalados, mas não é isso que faz a sua eminência, se de facto existe. Há artistas, poetas e pensadores que, para nossa vergonha, nunca deixarão a condição de sem-abrigo, mas não é isso que menoriza a altitude da sua produção.
À revista devir não interessam as artérias de circulação nem sequer o estatuto social ou mediático alcançado pelos seus colaboradores. As biografias e as bibliografias são quase dispensáveis. Interessa-nos, sim, a diversidade, a autonomia e a ousadia, ainda que a sua estética tenha poucos adeptos.
Os directores