O corpo celeste a que chamamos Plutão tem existência material independente dos conceitos que, desde a sua descoberta, conduziram à sua classificação. Completamente alheado da comissão de cientistas que conceptualiza as características dele conhecidas e que vota positiva ou negativamente a sua classificação como “planeta”, o corpo celeste percorre imperturbável o seu curso. Imaginando que Plutão é um artefacto realizado por um ser humano, imaginando-o até obra de arte, nada pode impedir qualquer indivíduo de usufruir de tudo o que nele (no que tem de concreto e no que projecta para além de si) colide com a sua sensibilidade e modo de conceptualizar, independentemente do veredicto da comissão de cientistas. Não querendo esta analogia firmar o debate interpares na completa inutilidade, urge no entanto sublinhar que, em arte, mais importante que os áridos caminhos comuns que forçam (ou forjam) os consensos é a vida interior da obra de arte em cada indivíduo disposto a dispensar-lhe o seu tempo.
Chegada ao seu quinto número, a devir inicia uma nova fase da sua existência editorial. O seu número de páginas foi aumentado, a sua periodicidade passou a anual e, em momentos apropriados, terá edições com carácter especial. Tal é o caso do presente número. Pela primeira vez propomos ao leitor um tema englobante que resultou num conjunto coeso de textos apenas em prosa, ensaios ou crónicas. Este quinto número é dedicado à reflexão em torno da Arte, enquanto conceito abrangente que merece ser questionado e problematizado em todas as suas vertentes e formas de expressão (visuais e não-visuais, verbais e não-verbais).
Os directores